‘País mais feliz do mundo’ vira refúgio para brasileiros em busca de qualidade de vida
O país nórdico liderou o ranking do Relatório Mundial da Felicidade pela 7ª vez
A Finlândia segue no topo do ranking do Relatório Mundial da Felicidade, tornando-se cada vez mais um destino atraente para famílias em busca de qualidade de vida. Na lista, o país nórdico é seguido, respectivamente, por países como Dinamarca, Islândia e Suécia. Entre os fatores que favorecem essa realidade estão elementos sociais como igualdade social e de gênero.
Em entrevista ao iG Delas, Heidi Virta, Diretora Sênior da Business Finland para a América Latina, explica a conexão entre esses dois fatores: “A igualdade de gênero entre grupos sociais e a inclusão de forma ampla são fatores que contribuem significativamente para a felicidade de uma nação. Países mais igualitários tendem a ser mais felizes. Embora outros fatores também influenciem o bem-estar, a igualdade e a inclusão são especialmente importantes, não apenas em termos de gênero, mas em todos os aspectos da diversidade.”
De acordo com a economista, o Relatório Mundial da Felicidade avalia seis critérios principais: PIB per capita, expectativa de vida, suporte social, liberdade para tomar decisões, generosidade na sociedade e ausência de corrupção.
“A Finlândia foi eleita o país mais feliz do mundo sete vezes consecutivas, e a igualdade está intrinsecamente presente em várias dessas categorias. Na Finlândia, a igualdade é fortemente priorizada nos direitos sociais. O acesso à assistência social básica é garantido, assim como a igualdade de gênero, de classe social e de oportunidades. Todos têm as mesmas chances de prosperar, independentemente de onde nasceram ou de suas condições. Isso cria uma sociedade em que o bem-estar é compartilhado por todos, reforçando os altos índices de felicidade”, explica a especialista.
Questionada sobre diferenças que distanciam o Brasil da Finlândia, Heidi Virta destaca: “Na Finlândia, por exemplo, as mães recebem um acompanhamento pré-natal gratuito e até um ano de licença-maternidade remunerada. Além disso, o país oferece licenças parentais para os pais, trabalho remoto e horários flexíveis para que tanto homens quanto mulheres possam conciliar melhor suas responsabilidades familiares e profissionais. Ambos os pais
têm direito a 160 dias de licença parental paga, sendo que o total chega a 320 dias por casal.”
Os direitos citados por Heidi Virta são fatores que levaram o casal de brasileiros Cintia Cruz e Kleber Carrilho a decidir criar o filho Gabriel, de 10 meses, na Finlândia.
Kleber, que é pesquisador e professor de Ciência Política na Universidade de Helsinki, destaca a importância das políticas de licença parental: “As políticas de licença parental e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional são fundamentais. Sentimos menos pressão e mais apoio para viver a paternidade e a maternidade de forma plena e participativa, com mais tempo de qualidade com nosso filho.”
Ele também aponta uma diferença marcante em relação à cultura brasileira e à responsabilidade paterna: “Na Finlândia, a divisão das responsabilidades é muito incentivada. Isso me fez repensar o papel do pai, que aqui é muito mais ativo desde o início. Sinto que isso me aproximou mais do meu filho e da experiência da paternidade.”
Para Cintia, comunicadora social e mestre em Nutrição e Comportamento, a mudança para a Finlândia representou um alívio em relação às pressões profissionais que enfrentava no Brasil, principalmente em relação à maternidade.
“Aqui, existe mais flexibilidade e compreensão sobre a maternidade e a carreira. Ter chefes que foram respeitadas como mães e puderam dar continuidade à carreira faz toda a diferença também. Sei que posso continuar desenvolvendo meus projetos sem a sensação de que preciso decidir entre o trabalho e meu filho.”
Além das políticas públicas, a cultura finlandesa também se destaca. “Acreditamos que ele terá uma infância com mais segurança, liberdade e qualidade de vida, além de crescer em uma sociedade que valoriza o bem-estar, a igualdade e a educação. Para a Cintia, criar um menino em uma sociedade menos machista a deixa menos amedrontada quanto ao que ela espera dele para o futuro.”
Mas nem tudo é fácil, com o filho de 10 meses e morando distante do Brasil, Cintia e Kleber vivem um desafio. “Esse momento representa uma fase de crescimento, mas também de muitos desafios, porque estamos distantes da rede de apoio que, para nós, brasileiros, é essencial: a família.”
Apesar disso, o casal pretende continuar morando na Finlândia a longo prazo. “Gostamos muito da qualidade de vida aqui e do suporte para famílias. Aprendemos a valorizar ainda mais o tempo com o nosso filho, além de desenvolver o apoio mútuo e a paciência, tanto como casal quanto como pais.”
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